quinta-feira, 17 de junho de 2010

Proposta de trabalho 4

A infografia desenvolvida no âmbito da proposta de trabalho n.º 4 tem como objectivo transmitir de uma forma mais visual e, portanto, de mais fácil apreensão, a informação relativa às dez ligas mais representadas no Mundial 2010 e à distribuição por continente dos jogadores que irão estar presentes nos relvados da África do Sul.
Uma quantidade de informação que se fosse transmitida em texto se traduziria numa exposição muito densa, que dificultaria uma compreensão mais rápida e eficiente por parte dos leitores.

Considerou-se que a melhor forma de transmitir a informação atrás descrita seria através de uma perspectiva cartográfica, em que uma versão estilizada do mapa mundo constitui o pano de fundo para veicular os factos (os números) relacionados com os assuntos em questão. A criação de um símbolo/ícone, que faz a representação do número de jogadores, e de balões, que permitem transmitir de forma mais sintética e visual a importância e peso relativo que as dez ligas mais representadas no Mundial assumem umas em relação às outras, possibilita ao leitor apreender mais facilmente todas as informações que se pretendem dar a conhecer - «uma imagem vale por mil palavras».


Recolha de exemplos de infografias

Ficam alguns exemplos de infografias estáticas, que abordam diversos assuntos distintos como desporto, política, ciência e tecnologia e arte (literatura). De destacar a infografia referente às consequências do abalo que atingiu o Haiti e a que tem como assunto o poeta Edgar Allen Poe, quem o influenciou e quem foi influenciado por ele.





























Grafismo da Informação

A infografia consiste basicamente em informação gráfica e visual, que surge com as primeiras combinações entre um desenho ou pintura com um texto alusivo. assim, será a presentação do binómio imagem/texto. As infografias explicam, situam e ilustram a informação com perspectivas documentais, cartográficas e estatísticas. Podem tratar uma extensa variedade de assuntos: informações gerais, política, economia, ciência e tecnologia, meio ambiente e desporto. A análise dos factos deve ser feita com o máximo de elementos de informação e o mínimo de palavras.
Dessa forma, a infografia explica aquilo que texto e infografia não conseguem explicar com a mesma economia de espaço e a mesma eficiência., através de elementos visuais como gráficos, diagramas e desenhos, utilizando também algum texto. Sendo assim, tem a função de facilitar a comunicação, ampliar o potencial de compreensão dos leitores, permitir uma visão global dos assuntos e detalhar informações menos familiares do público, que em texto seriam muito extensas e mais difíceis de transmitir.
Nos meios impressos é utilizada desde os seus primórdios para explicar com maior clareza algum aspecto informativo tratado nos textos. Aparece hoje na Web de duas formas: como informação complementar de uma notícia, geralmente servindo de ilustração para o texto, ou como a própria notícia, a informação principal, o que ainda ocorre em poucos casos.
Enquanto alguns autores consideram a infografia um género jornalístico, entre os quais De Pablos, outros discordam da classificação e referem-se à infografia como uma técnica, uma disciplina, um recurso, uma ferramenta informativa, uma ilustração, uma unidade espacial. A infografia multimédia mantém as características essenciais da infografia impressa, mas ao ser realizada através de outros processos tecnológicos, agregar as potencialidades do meio e ser apresentada noutro suporte, estende a sua função e incorpora novas formas culturais.
Concluindo, a infografia deve sempre procurar outra perspectiva, de forma a ajudar o leitor a compreender o conteúdo da notícia, possibilitando uma leitura mais fácil e uma visão global do assunto.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Proposta 1 - Memória descritiva

Seguem-se as composições visuais finais, relativas à proposta de trabalho 1, e respectivas memórias descritivas.

A escolha do tema que foi alvo de uma interpretação visual recaiu sobre uma composição musical do grande espírito revolucionário negro que foi Fela Kuti. A música intitula-se "Zombie" e reflecte profundamente a temática fortemente política das músicas deste autor assim como o seu estilo pioneiro e original. Apesar de ser uma composição musical longa (cerca de 12 minutos) e que se afasta do que se convencionou chamar pop/rock, é uma música que se "entranhou" na minha pele, pela sua violência rítmica e discursiva, pelo seu poder libertário e por simbolizar a luta contra a injustiça e pela liberdade.
A música escolhida para servir de tema para a proposta 1 caracteriza-se, entre outras dimensões, pela sua riqueza harmónica e melódica, por uma extravagante complexidade e "violência" rítmicas e pela livre improvisação jazzística, nomeadamente a nível dos instrumentos metálicos que compõem a sua linha condutora. Todas estas características resultam numa composição musical muito poderosa que, desde o início, nos envolve numa teia rítmica que vai sofrendo alterações - com paragens bruscas, múltiplos contratempos e improvisações de frases musicais por parte de vários instrumentos -, sem nunca perder o seu forte cunho frenético.





Os elementos básicos da comunicação visual predominantes na composição circular são o ponto, a linha, a forma, o tom, a cor, a dimensão a escala e o movimento. Nessa composição visual estão presentes elipses de diferentes cores, dimensões e escalas que têm como objectivo reproduzir visualmente a riqueza melódica e rítmica da música, isto é, reflectir as diferentes e múltiplas variações presentes na música sobre o mesmo refrão musical, características da livre improvisação jazzística. Como se de um ponto inicial com uma dimensão, uma cor e uma escala fossem surgindo sucessivamente novas “dimensões musicais” com outras “cores” e escalas musicais. As espirais, que também são constituídas por cores diferentes, pretendem traduzir a natureza circular da música. Por outras palavras, apesar de apresentar paragens bruscas e múltiplos contratempos, a música “Zombie” é construída a partir de uma técnica de espiral, em que as improvisações partem sempre de um refrão que vai sendo constantemente “relembrado” ao ouvinte. As cores utilizadas são o vermelho, o verde, o amarelo e o preto, que constituem o vocabulário visual fundamental da maioria da música africana. Para mim simbolizam a paixão e a entrega com que os povos africanos vivem a vida (vermelho), a sua comunhão com a Natureza (verde) e a luminosidade das terras e do espírito africano (amarelo).
Como afirma Donis Dondis aos triângulos associam-se acção, tensão e conflito. As estruturas triangulares que completam a composição tencionam assim traduzir a “violência” rítmica e discursiva da música, imprimindo à composição visual uma sensação de intensificação, amplificação que a música transmite desde o início e que se prolonga pelos restantes minutos com um forte carácter frenético e poderoso. As forma triangulares fazem também lembrar a boca dos primeiros fonógrafos assim como o saxofone, que é o instrumento dominante da música “Zombie”.
Na base da teoria da forma está a crença que para compreender qualquer sistema é preciso reconhecer esse sistema como um todo formado por partes interactuantes, que podem ser isoladas e vistas como inteiramente independentes, e depois reunidas no todo. A forma corresponde à maneira como as partes estão dispostas no todo. A meu ver, a combinação visual de todos os elementos da comunicação visual presentes na composição circular reproduzem a instabilidade, a complexidade, a espontaneidade e o movimento que caracterizam a música em questão. Assim, as técnicas de comunicação visual privilegiadas na construção desta composição visual foram a instabilidade, para realçar a inquietação, a provocação e movimento próprios da música; a complexidade, para salientar a riqueza harmónica e melódica, e a espontaneidade, que traduz a liberdade artística e a impulsividade distintivas desta música. A abordagem musical de Fela Kuti, expressa na multiplicidade de instrumentos e ritmos utilizados em pura explosão sonora, forma um todo complexo mas com um poder libertário que invade e conquista o nosso corpo aos primeiros sons do saxofone. Na minha opinião, o todo que percepcionamos nesta composição visual remete-nos para um ser vivo, livre, dinâmico, musical que está em constante movimento, mas em movimento de contra-corrente, como o próprio autor.


Fela Kuti é o criador do Afrobeat, uma mistura contagiante e poderosa de funk e jazz americanos com os ritmos tradicionais da música nigeriana e do highlife da África Ocidental. O nigeriano utilizava a música como forte instrumento político, criticando a exploração do homem pelo homem, as lutas fratricidas entre os povos e o papel que o mundo ocidental desempenhou (e continua a desempenhar) na miséria e agonia social em que vivem os povos africanos. Na sua visão, o africano deveria libertar-se do complexo do "colonizado" e, por isso, deveria revoltar-se contra os regimes corruptos e hipócritas, entre os quais o governo nigeriano, que governavam os países africanos após a independência. A música escolhida, "Zombie", é um ataque mordaz aos soldados nigerianos, usando a metáfora "zombie" para descrever os métodos brutais das forças armadas nigerianas.





O principal objectivo da composição quadrangular é exactamente transmitir visualmente a mensagem referida anteriormente, mais propriamente um “quebrar de amarras” do africano, a libertação de tudo aquilo que ainda impossibilita a sua auto-determinação e condiciona a sua liberdade. Após uma extensa recolha fotográfica, consegui uma fotografia que, após ter sofrido algumas alterações em Photoshop, tem todos os elementos que considero imprescindíveis para transmitir esse “estilhaçar” das correntes que Fela Kuti considera, e bem, ainda prenderem os povos africanos. Para além deste objectivo, a composição quadrangular traduz ainda visualmente muitas das características da música “Zombie”.
O primeiro aspecto que salta à vista quando percepcionamos esta composição é a profusão de formas (ramos) que saem do tronco principal, o que pretende transmitir essa forte sensação de libertação, o “quebrar de amarras” mencionado atrás e o ritmo “diabólico”, serpenteante e ziguezagueante da música. Além disso, esses ramos têm formas, direcções, cores, tons e texturas diferentes, exprimindo assim o dinamismo e a complexa diversidade harmónica e melódica da música. Com efeito, a textura (como elemento básico da comunicação visual) desempenha um papel fundamental nesta composição visual. Para além das diferentes texturas da árvore, visualizamos a textura mais “aveludada” das nuvens que reflecte as ambiências mais calmas e oníricas criadas pelo órgão durante a música. O Sol, que está parcialmente encoberto por nuvens que parecem fazer um V de vitória, simboliza a luz que deve despertar os povos africanos para os combates diários que é necessário travar por uma sociedade livre e plena no respeito pelos direitos humanos. Deste modo, verifica-se que, para além do ponto e da linha, são a forma, a direcção, o tom, a cor, a textura e a escala os elementos básicos da comunicação visual preponderantes nesta composição. As técnicas de comunicação visual que estão mais presentes nesta composição visual são a espontaneidade, que reflecte a impulsividade e a liberdade que o autor dá à sua imaginação criadora; a fragmentação, que sugere movimento, e a profundidade, que permite perspectiva e realçar as formas da árvore.
O todo da composição interpreta visualmente, na minha opinião, o movimento constante e a expressão de força e poder libertário que a música transporta e me transmite.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Proposta 2 - Memória descritiva

Seguem-se as composições tipográficas finais e respectivas memórias descritivas.

Alberto Caeiro apresenta-se como um simples "guardador de rebanhos", que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Em Caeiro há a inocência e o deslumbramento pela constante novidade das coisas. O poeta constrói uma doutrina orientada para a objectividade, para a contemplação dos objectos originais, para o conhecimento intuitivo da Natureza. Caeiro constrói uma poesia das sensações, apreciando-as como boas, por serem naturais. Numa clara oposição entre sensação e pensamento, o mundo de Caeiro é aquele que se percebe pelos sentidos. "Argonauta das sensações verdadeiras", o Poeta ensina a simplicidade e a clareza totais, o que é mais primitivo e natural. Daí que a poesia das sensações seja também uma poesia da Natureza: Caeiro afirma-se o poeta da Natureza, que ama a Natureza, vive de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. Passeando e observando o mundo, personifica o sonho da reconcialição com o Universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza.

«Sinto o meu corpo deitado na realidade,
sei a verdade e sou feliz.»





A composição tipográfica apresentada, que recria uma árvore, pretende traduzir simbolicamente a visão de Caeiro descrita anteriormente, nomeadamente a sua profunda comunhão com a Natureza, o regresso às origens e o sensacionismo que define toda a obra - o sentido das coisas reduz-se à sua existência, forma e cor. O pensamento metafísico nada acrescenta à realidade, que vale por si mesma. O sentido de uma árvore é o que percepcionamos dela através dos nossos sentidos. Como o poeta tão engenhosamente nos explica, "comer um fruto é saber-lhe o sentido".

O fundo branco e a utilização apenas da cor preta na construção da árvore pretendem reflectir precisamente a objectividade e a clareza com que Caeiro vê o mundo. As forma curvilíneas dos versos e palavras que compôem a árvore exprimem a alegre e despreocupada sensualidade com que o poeta vive as sensações. A fonte utilizada - Edwardian Script ITC -, apesar de não ser uma fonte graficamente simples, é uma fonte que se assemelha à letra de escola primária e, portanto, pretende reflectir essa objectividade (própria do mundo de Caeiro) e inocência na forma de observar o mundo que caracterizam a nossa infância. Além disso, é uma fonte que facilitou a construção gráfica da árvore, com todas as linhas e contornos que eram imprescindíveis para produzir o efeito desejado.



Ricardo Reis é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade das coisas. Na poesia de Reis, a vida é efémera e o futuro não existe. As certezas da relatividade das coisas e da fugacidade da vida levam-no a estabelecer uma filosofia de vida, de inspiração horaciana e epicurista, capaz de conduzir o homem numa existência sem inquietações nem angústia. O poeta procura uma forma de viver com o mínimo de sofrimento, mediante um esforço lúcido e disciplinado para obter uma calma qualquer. Reis procura um prazer relativo, uma verdadeira ilusão da felicidade por saber que tudo está traçado (Fado), tudo é transitório, tudo tem seu fim, como é demonstrado no poema "Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio", que serviu de inspiração à composição tipográfica.

«Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.»





Nesta composição tipográfica pretende-se representar um riacho que corre incessantemente para o mar, que constitui uma metáfora para o pensamento filosófico de Ricardo Reis: a vida é efémera, tudo é fugaz, nada fica. Perante esta certeza, o poeta advoga a procura do prazer de cada instante sabiamente gerido, com moderação e sem desprazer ou dor. A orientação horizontal da composição, assim como o fundo cinzento (que pretende reflectir a indiferença céptica ou apatia do heterónimo), têm como objectivo exprimir simbolicamente a serenidade epicurista do poeta e a tranquilidade (ataraxia) que ele busca no sentido de evitar qualquer perturbação ou dor. Utilizou-se a fonte Arial, pois é um tipo de letra simples, sem serifas, que tem como objectivo traduzir a lucidez e disciplina que o poeta considera imprescindíveis para se conseguir viver, perante a efemeridade da vida e relatividade das coisas, com o mínimo sofrimento.



Álvaro de Campos é o heterónimo que reflecte a insubmissão e rebeldia dos movimentos vanguardistas da segunda década do século XX, olhando o mundo contemporâneo e cantando o futuro. A composição tipográfica centra-se na segunda fase da sua obra poética (fase futurista/sensacionista), em que o poeta se revela como o poeta vanguardista que, numa linguagem impetuosa, excessiva, canta o mundo contemporâneo, celebra o triunfo da máquina, da força mecânica e da velocidade. Campos exalta a cidade, a sociedade e a civilização modernas com os seus valores e a sua "embriaguez". Aponta a beleza dos "maquinismos em fúria" por oposição à beleza tradicionalmente concebida, ou seja, canta a raiva mecânica em contraste com o desejo de sossego e de serenidade. Tanto a Ode Triunfal como a Ode Marítima reflectem bem esta exaltação do mundo mecânico, assim como exprimem a intensidade e totalização das sensações. Com efeito, Campos é um verdadeiro sensacionista, que procura o excesso violento das sensações (à maneira da Walt Whitman), manifestando a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações. Campos, sentindo a complexidade e a dinâmica da vida moderna, procura a totalização das sensações, conforme as sente ou pensa, o que acaba por lhe causar tensões profundas, que se reflectem na terceira fase da sua obra (fase intimista/independente).
Aqui fica um excerto dessa obra poética genial que é a Ode Triunfal e que serviu de inspiração à composição tipográfica.

Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!






Decidiu-se recriar a imagem sugerida na quadra referida anteriormente através de uma das representações existentes da figura de Fernando Pessoa (todos os heterónimos são Pessoa, assim como Pessoa é todos os heterónimos). Surge então a figuração tipográfica de Álvaro de Campos na sua relação com o mundo moderno, industrializado (representado na parte direita da composição), que reflecte o excesso violento das sensações, isto é, a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações - o poeta quer "sentir tudo de todas as maneiras" e "ser toda a gente e toda a parte". Pretende-se então simbolizar a totalização das sensações que o mundo moderno e a cidade provocam no heterónimo. O facto das palavras aparecerem cortadas, tanto na figura de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa como na “catedral” à direita, pretende realçar exactamente a vertigem insaciável do poeta na procura das sensações. A fonte utilizada caracteriza-se, como o próprio nome indica, pelo impacto que a sua forma transmite. Recorreu-se a esta fonte para expressar o modernismo do heterónimo e porque era a mais apropriada para preencher a figura de Álvaro de Campos.

sábado, 29 de maio de 2010

Exemplos quotidianos do papel determinante da cor

Ficam então aqui alguns exemplos de comunicações visuais com que nos deparamos diariamente e onde a cor desempenha um papel crucial na transmissão do significado das mesmas:



















Proposta de trabalho 3

A cor transmite grande parte da informação veiculada na Comunicação Visual, pois permite distinguir, entender, simbolizar e identificar. Sendo assim, as propriedade e significados da cor são determinantes numa comunicação visual. Sendo estimuladora de sensações, a cor no design é utilizada basicamente como elemento associativo ou de ordenação entre os elementos da comunicação visual, mas assume-se frequentemente, especialmente no meio publicitário, como a mais importante forma de passar a mensagem. A proposta de trabalho n.º 3 consiste na alteração das cores de determinada comunicação visual de forma a alterar o significado da mensagem
visual veiculada. Como a cada cor estamos habituados a associar determinado conceito e emoção, alterando as cores de uma comunicação visual iremos alterar a forma como percepcionamos a mensagem veiculada.





Com este exemplo de manipulação da cor, percebe-se que aquilo que era percepcionado como uma imensidão de gelo e uma sensação de frio, se transforma no oposto, num ambiente saturado de calor, remetendo-nos para um deserto da América Latina ou mesmo para o deserto do sal (este carácter que atribuo à nova imagem não pode deixar de estar associado à minha memória, à minha experiência).





A manipulação de cor do logotipo do Open de Roland Garros, altera imediatamente os conceitos associados ao torneio, nomeadamente o facto de ser em terra batida. Assim, o significado da mensagem veiculada modifica abruptamente.
Os exemplos referentes a logotipos seguintes seguem a mesma linha de raciocínio e mostram como a alteração das cores nos faz olhar tão diferentemente para algo que estamos habituados a ver e a pensar de certa maneira.















A cor como matéria visual de transmissão de mensagens, conceitos e sentimentos

A cor é um dos elementos básicos da comunicação visual que melhor consegue transmitir mensagens, conceitos e sentimentos. Isto porque a cor é uma percepção visual a que associamos espontaneamente um conjunto de siginificados, conceitos e emoções. Assim, a cor é um dos elementos visuais mais importantes pois transmite-nos uma enorme quantidade de informação.
A percepção visual da cor dos objectos é feita através da luz que os corpos reflectem e que atinge a nossa retina. A luz branca como a do Sol atinge os objectos, sendo uma parte dessa luz preferencialmente reflectida pelo corpo e outra absorvida. A parte da luz reflectida que chega aos nossos olhos é que determina a cor da superfície dos objectos. Em termos da zona visível do espectro eletromagnético, podemos dizer que se um objecto não absorver (reflectir) os raios correspondentes à frequência da determinada cor, ele vai ter essa mesma cor. Assim, um objecto tem a cor vermelha se absorve preferencialmente as frequências fora do vermelho, reflectindo as frequências correspondentes à parte vermelha do espectro do visível.
Na síntese subtractiva, quantas mais cores se misturar, menos luz se vai reflectindo, até que, chegado ao preto, toda a luz é absorvida. Na síntese aditiva, o processo é contrário.
Na síntese subtractiva, as cores primárias são: azul ciano, magenta e amarelo. A mistura em partes iguais dessas cores duas a duas dá origem às secundárias: azul-violáceo, vermelho e verde. Todas as cores misturadas resultam no preto. Na síntese aditiva, usando três focos de luz de cor vermelha, verde e azul, obtém-se o branco. Misturando estas cores duas a duas, obtém-se o amarelo, o azul ciano e o magenta.
Os pares de cores complementares são: Laranja - Azul; Roxo - Amarelo; Verde - Vermelho.
Ao longo da história humana as cores foram ganhando associações que provêm, na sua maioria, da Natureza mas também dos contextos culturais, sociais e históricos das várias civilizações. Com efeito, diferentes culturas atribuem diferentes significados à mesma cor. Por exemplo, enquanto no Ocidente a cor do luto é o preto, na Índia é o branco. Portanto, o contexto cultural em que cada indvíduo se desenvolve tem uma influência determinante no significado e emoção que associa a cada cor. A memória, como processo psicológico individual de (re)construção do mundo, desempenha um papel crucial na interpretação particular das cores, uma vez que relacionamos a cor com determinados factos memorizados e que constituem todas as nossa vivências. Chegamos assim à conclusão que a cultura, a história, a memória, a experiência e a inteligência, todas influenciam a forma como percebemos as cores. Por outras palavras, os significados que atribuimos às cores variam subtilmente de indivíduo para indivíduo, de acordo com com o background psicológico e cultural de cada um. Isto implica ainda que os significados das cores se alterem ao longo do tempo e do espaço, em virtude das mudanças culturais, históricas e sociais que se vão sucedendo e modificando a forma como "olhamos" para o mundo.
Relativamente à Psicologia das cores, existem então determinados atributos, conceitos, emoções e sentimentos que associamos a determinada cor:
Cinza: relacionado com a elegância, a humildade, o respeito.
Vermelho: associado ao amor, ao fogo, a festas, ao sangue, à energia.
Azul: está associado à harmonia, confidência, conservadorismo, ao céu, à água, ao conhecimento.
Laranja: associado à energia, à criatividade, ao equilíbrio, ao Outono, à vibração, à actividade.
Verde: associado à Natureza, à Primavera, à fertilidade; é uma cor calma e refrescante; ligada também ao dinheiro.
Roxo: ligado à velocidade, concentração, optimismo, realeza, espiritualidade, sabedoria.
Branco: ligado à pureza, inocência, paz, simplicidade, espiritualidade, rendição.
Preto: ligado ao poder, modernidade, sofisticação, formalidade, morte, medo.
Castanho: relacionado com a segurança, calma, Natureza, estabilidade, estagnação, aspereza.
Para exprimir a forma subtil e particular com que cada um de nós "lê" as cores, o que permite a expressão de diferentes "texturas" psicológicas, fica a citação da música "Venus in Furs" dos Velvet Underground:

"A thousand dreams that would awake me
Different colors made of tears"

A cor é uma metáfora do sentir, permitindo-nos "jogar" com todas as nossas emoções e sensações. Ou como tão bem postula Carl Jung:

"As cores são a língua materna do subconsciente"

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um ser-em-poesia

Despersonalização

Fernando Pessoa não é apenas o autor de uma obra original, múltipla e multifacetada, mas, principalmente, o criador de uma "pequena humanidade", constituída por figuras "exactamente humanas" com personalidade própria, como são Alberto Caeiro, Ricardo Reis ou Álvaro de Campos.
Desde muito cedo que Pessoa sentia dentro de si um rumorejar de vozes, uma dispersão interior, um pluralismo de disposições e de inclinações que o obrigavam à diversidade de uma multiexpressão intelectual e estética. Assim, o Poeta, ao sentir-se constantemente outro, ao "outrar-se", cria personalidades que exprimem estados de alma, percepções, visões do mundo, temperamentos, ideias e sentimentos específicos, distintos dos seus e, por vezes, opostos. O "eu" do artista despersonaliza-se, desdobra a própria individualidade, torna-se essência de outros e de si, para melhor exprimir a apreensão da Vida, do Ser e do Mundo. O desafio aliciante da proposta de trabalho n.º 2 é exactamente transmitir a essência de cada heterónimo utilizando a Letra como elemento de comunicação visual e de transmissão de conceitos.

Alberto Caeiro apresenta-se como um simples "guardador de rebanhos", que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Em Caeiro há a inocência e o deslumbramento pela constante novidade das coisas. O poeta constrói uma doutrina orientada para a objectividade, para a contemplação dos objectos originais, para o conhecimento intuitivo da Natureza. Por isso recusa a metafísica ( afirmando mesmo que "pensar é não compreender"), o misticismo e o sentimentalismo social e individual. Caeiro constrói uma poesia das sensações, apreciando-as como boas, por serem naturais. Propõe-se a não passar do realismo sensorial, postulando que a "sensação é a única realidade para nós" e que o pensamento apenas falsifica o que os sentidos captam. Assim, numa clara oposição entre sensação e pensamento, o mundo de Caeiro é aquele que se percebe pelos sentidos e o sentido das coisas reduz-se à sua existência, forma e cor - a realidade vale por si mesma. Este heterónimo é então um sensacionista, que vive aderindo espontaneamente às coisas ("Para além da realidade imediata não há nada") e procura gozá-las com alegre e despreocupada sensualidade.
"Argonauta das sensações verdadeiras", o Poeta ensina a simplicidade e a clareza totais, o que é mais primitivo e natural. Daí que a poesia das sensações seja também uma poesia da Natureza: Caeiro afirma-se o poeta da Natureza, que ama a Natureza, vive de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. Passeando e observando o mundo, personifica o sonho da reconcialição com o Universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza.

Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.


Este excerto do poema "Guardador de Rebanhos" é perfeitamente exemplificativo da doutrina e do carácter de Alberto Caeiro, sendo um dos dois poemas utilizados na composição tipográfica relativa a este heterónimo.
Os ensinamentos de Alberto Caeiro, quer ao trazer o ser humano ao quotidiano e ao integrá-lo na simplicidade da Natureza, quer ao encarnar a essência do sensacionismo, tornam-no Mestre da outra humanidade: Pessoa hortónimo e heterónimos. Para estes, Caeiro representa um regresso às origens, ao paganismo primitivo, à sinceridade plena. Pode-se mesmo afirmar que Caeiro ensinou-lhes a filosofia de não filosofar, ao anular o pensamento metafísico.

Ricardo Reis é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade das coisas. Na poesia de Reis, a vida é efémera e o futuro não existe. As certezas da relatividade das coisas e da fugacidade da vida levam-no a estabelecer uma filosofia de vida, de inspiração horaciana e epicurista, capaz de conduzir o homem numa existência sem inquietações nem angústia. O poeta procura uma forma de viver com o mínimo de sofrimento, mediante um esforço lúcido e disciplinado para obter uma calma qualquer. Sendo um epicurista, e portanto defendendo o prazer como caminho da felicidade, Ricardo reis advoga a procura do prazer de cada instante sabiamente gerido, com moderação e sem desprazer ou dor. Para isso, é necessário encontrar a ataraxia, a tranquilidade capaz de evitar qualquer perturbação. Reis procura um prazer relativo, uma verdadeira ilusão da felicidade por saber que tudo está traçado (Fado), tudo é transitório, tudo tem seu fim, como é demonstrado no poema "Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio", que serviu de inspiração à composição tipográfica e do qual fica um excerto.

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e nao estamos de maos enlaçadas.
(Enlacemos as maos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nao fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as maos, porque nao vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.


Nesta atitude de aceitação do destino inelutável, o poeta defende a apatia como o ideal ético, ou seja, faz a apologia da indiferença como forma de saber viver com calma e tranquilidade, abstendo-se de esforços inúteis para obter uma glória ou virtude que nada acrescentam à vida. A apatia em reis, ou indiferença céptica, traduz então um acto de lucidez de quem sabe que tudo está fatalmente traçado.

Álvaro de Campos é o heterónimo que reflecte a insubmissão e rebeldia dos movimentos vanguardistas da segunda década do século XX, olhando o mundo contemporâneo e cantando o futuro. Esta exposição, assim como a composição tipográfica, irá centrar-se na segunda fase da sua obra poética (fase futurista/sensacionista), em que o poeta se revela como o poeta vanguardista que, numa linguagem impetuosa, excessiva, canta o mundo contemporâneo, celebra o triunfo da máquina, da força mecânica e da velocidade. Campos exalta a cidade, a sociedade e a civilização modernas com os seus valores e a sua "embriaguez". Aponta a beleza dos "maquinismos em fúria" por oposição à beleza tradicionalmente concebida, ou seja, canta a raiva mecânica em contraste com o desejo de sossego e de serenidade. Tanto a Ode Triunfal como a Ode Marítima reflectem bem esta exaltação do mundo mecânico, assim como exprimem a intensidade e totalização das sensações. Com efeito, Campos é um verdadeiro sensacionista, que procura o excesso violento das sensações (à maneira da Walt Whitman), manifestando a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações, numa vertigem insaciável, que o leva a querer "sentir tudo de todas as maneiras" e "ser toda a gente e toda a parte". O sensacionismo de Álvaro de Campos distingue-se do de Caeiro na medida em que este considera a sensação de forma saudável e tranquila, rejeitando o pensamento, enquanto que Campos, sentindo a complexidade e a dinâmica da vida moderna, procura a totalização das sensações, conforme as sente ou pensa, o que acaba por lhe causar tensões profundas, que se reflectem na terceira fase da sua obra (fase intimista/independente).
Aqui ficam dois excertos dessa obra poética genial que é a Ode Triunfal e que serviram de inspiração à composição tipográfica.

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com o que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

(...)

Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!

domingo, 23 de maio de 2010

Recolha de composições tipográficas

Os vários tipo de letra existentes e as varíadissimas formas a que as podemos adaptar permitem-nos exprimir conceitos, sentimentos, visões e concepções do mundo únicas. Aqui fica uma recolha de exemplos de composições tipográficas, em que a letra desempenha um papel estético e simbólico.















Tipografia 2

A Tipografia (do grego typos, "forma" e graphein, "escrita") pode ser definida como "a arte de produzir textos em tipos, isto é, caracteres. Ou ainda a arte de compor e imprimir em tipos" (Ribeiro,1998).
De uma forma mais simplista, poder-se-á afirmar que é o processo de criação na composição de um texto, física ou digitalmente, tendo como principal objectivo dar ordem estrutural e forma à comunicação impressa. Para então conseguir tal objectivo, a Tipografia não envolve apenas o desenho da forma das letras, sendo necessário organizá-las no espaço da comunicação imprensa. Assim, na Tipografia não interessa somente desenvolver uma fonte, mas saber utilizá-la de forma conveniente. Isto porque uma composição tipográfica deve ser legível e visualmente envolvente, sem desconsiderar o contexto em que é lida e os objectivos da sua publicação. Logo, qualquer que seja o meio utilizado, qualquer projecto tipográfico deve utilizar fontes tipográficas "coerentes" com os seus objectivos específicos, o seu público-alvo e outros factores tipográficos importantes como históricos, técnicos e conceptuais.
A escrita cuneiforme suméria é, juntamente com os hieróglifos egípcios, a mais antiga língia humana escrita conhecida. São os fenícios, povo de marinheiros e comerciantes, que adaptam o alfabeto egípcio, com os seus glifos fonéticos que são a base de de todos os alfabetos usados no ocidente e nas línguas Indoeuropeias. Posteriormente, os gregos importaram o alfabeto fenício, introduzindo as suas vogais, e os Romanos, assimilando os elementos culturais dos territórios que iam dominando, adaptaram o alfabeto Grego/Etrusco à sua língua e fonética. É nesta época que se desenvolvem as terminações das letras denominadas de serifas e vários tipos de letra (Capitalis Quadrata,Rústica, Cursiva, Uncial). É já no século XV que a Tipografia dá uma passo de gigante, com a invenção da prensa tipográfica. A tipografia clássica baseia-se em pequenas peças de madeira ou metal com relevos de letras e símbolos — os tipos móveis. Tipos rudimentares foram inventados inicialmente pelos chineses. Mas é no século XV que são redescobertos por Johann Gutenberg, com a invenção da prensa tipográfica. A diferença entre os tipos chineses e os de Gutenberg é que os primeiros não eram reutilizáveis. A reutilização dos mesmos tipos para compor diferentes textos mostrou-se eficaz e é utilizada até aos dias de hoje, constituindo a base da imprensa durante muitos séculos. Essa revolução que deu início à comunicação em massa, foi cunhada pelo teórico Marshall McLuhan como o início do “homem tipográfico”.

A Letra ultrapassa o seu carácter meramente funcional, sendo ela própria uma matéria visual de representação fónica, transformando-se num "veículo" visual de transmissão de conceitos. Por outras palavras, a Letra desempenha como grafismo uma função autónoma da sua função textual. Este facto é facilmente observável pelas diferentes sensações que os diferentes tipos de Letra provocam no receptor da mensagem. Isto é, a Letra, além do seu papel estético e simbólico, transporta um forte valor semântico. Sendo assim, a Letra, como elemento da Comunicação Visual e mais propriamente como parte integrante e importante do design gráfico, tem por si só um valor imagético, transmitindo determinados conceitos a quem a visualiza. É exactamente nesta premissa que assenta a proposta de trabalho n.º 2, que nos desafia a criar três composições tipográficas que materializem os conceitos associados a três heterónimos do poeta Fernando Pessoa; Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Pretende-se que cada uma das composições traduzam as características particulares de cada um dos heterónimos, quer seja através do tipo de letra utilizado como da percepção sensorial que essas composições transmitem.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Alberto Caeiro - Esboço

Naturalmente



Todos os elementos da comunicação visual existem na Natureza e rodeiam-nos para onde quer que olhemos. Aqui fica alguma pesquisa fotográfica que ilustra bem como con(vivemos) diariamente com eles.















Algumas destas fotos forma mesmo imprescindíveis para a realização da proposta de trabalho n.º 1.