Fela Kuti - o rebelde africano

A escolha do tema que irá ser alvo de uma interpretação visual recaiu sobre uma composição musical do grande espírito revolucionário negro que foi Fela Kuti. A música intitula-se "Zombie" e reflecte profundamente a temática fortemente política das músicas deste autor assim como o seu estilo pioneiro e original. Em primeiro lugar, impõe-se uma breve contextualização biográfica e musical sobre a obra de Fela Kuti.
Fela Kuti nasceu em 1938 na Nigéria no seio de uma família de classe média, que se dedicava activamente à luta política anti-colonial. Em 1958, mudou-se para Londres onde estudou música no Trinity College of Music e formou a banda Koola Lobitos, que já explorava o som que viria a ser tão revolucionário e característico da música de Fela Kuti. Em 1969, fez uma pequena digressão pelos Estados Unidos da América, contactando com o movimento Black Power, que influenciou fortemente a sua música e visão política.
Imaginem James Brown, Huey Newton, Bob Marley, Duke Ellington e Malcolm X todos unidos num negro punho Africano e verão o artista contestário e o homem desperto, destemido e "esfomeado" que foi Fela Kuti. A nível musical, Fela é o criador do Afrobeat, uma mistura contagiante e poderosa de funk e jazz americanos com os ritmos tradicionais da música nigeriana e do highlife da África Ocidental. Utilizava a música como forte instrumento político, criticando a exploração do homem pelo homem, as lutas fraticidas entre os povos e o papel que o mundo ocidental desempenhou (e continua a desempenhar) na miséria e agonia social em que vivem os povos africanos. Na sua visão, o africano deveria libertar-se do complexo do "colonizado" e ,por isso, deveria revoltar-se contra os regimes corruptos e hipócritas, entre os quais o governo nigeriano, que governavam os países africanos após a independência. Sendo alvo de perseguições políticas pelo seu carácter revolucionário e pelo seu estilo de vida de contra-cultura, Fela Kuti criou um partido político e formou uma comuna independente do estado nigeriano denominada República Kalakuta, que foi sendo atacada sucessivamente pelas forças militares.
A música escolhida, "Zombie", é um ataque mordaz aos soldados nigerianos, usando a metáfora "zombie" para descrever os métodos brutais das forças armadas nigerianas.
Apesar de ser uma composição musical longa (cerca de 12 minutos) e que se afasta do que se convencionou chamar pop/rock, é uma música que se "entranhou" na minha pele, pela sua violência ritmíca e discursiva, pelo seu poder libertário e por simbolizar a luta contra a injustiça e pela liberdade. Fica a música e a letra, que foi escrita numa mistura entre dialectos nigerianos e o inglês.